terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Fogo no Cerrado 2009 - pegou, e forte!





Impossível não sentir saudades ao lembrar das duas noites da programação do Festival Fogo no Cerrado 2009. O festival independente é realizado pelo coletivo Bigorna Produções e sua segunda edição foi nos dias 4 e 5 de dezembro, no Toca Espaço Bar, em Campo Grande.

De rockão progressivo ao moderninho, de punk ao dub, as bandas fizeram o público ferver, fritar, ficar cozido e todas as outras analogias ligadas ao poder de fogo que tem a música boa. Ao todo foram 24 bandas. Entre elas Móveis Coloniais de Acaju (DF) e Inocentes (SP) que são desses shows de encher os olhos, os pulmões de ar, a cabeça de lembranças inesquecíveis.

Não só eles, mas muita banda legal mostrou presença e marcou sua pegada nesse brejão. Tipo Hierofante Púrpura, Capim Maluco e Ecos Falsos, conterrâneos de São Paulo, Wolf Attack (PR) e Inimitáveis (MT). As bandas locais (integrantes do coletivo Bigorna e convidadas) seguraram com responsa o dever de representar uma amostra do que é produzido por aqui e ainda encarnar o anfitrião para receber com carinho a galera de fora.

Para fechar, o público não se intimidou com o clima chuvoso, nem mesmo perdeu fôlego quando de frente com a maratona de shows noite afora, madrugada adentro. Ou seja: lindo, massa demais.

Festival que começou modesto na sua estréia em 2008 - mas nem por isso menos caliente - o Fogo no Cerrado sem dúvida cresceu e este ano se estabelece como um evento de música independente que é importante para a cultura urbana de Campo Grande.

Bigorna Produções manda avisar: Fogo no Cerrado é feito para todos, na raça, e as próximas edições que estão por vir já carregam o desejo de superar as anteriores. A seguir, um aperitivo para quem não pôde ver o Fogo no Cerrado 2009 de perto.



Sexta-feira (4), primeiro dia de Festival, aquela comoção para que tudo desse certo. Assim foi. A banda campo-grandenses Repúdio CxGx abre os trabalhos da noite e mostra o peso da revolta da perifa de Campão com seu punk-rock. Snorks (MT) vem na sequência. Acompanham Repúdio no punk-rock, bem tocado e em afinação com bom-humor.

Depois vem Wolf Attack (PR). O power-trio mostra sua mistura raivosa de progressivo, punk e blues com vocais que lembram mesmo uma matilha de lobos, prestes a atacar. De deixar o público boquiaberto; a performance é marcante. Ponto super high: baixo tocado no colo, grunhidos tirados com um copo de vidro e muitos aplausos.

Na sequência, a também local Facas Voadoras dá o recado e nem precisa argumentar porquê é queridinha nas timelines de festas da cidade e festivais Brasil afora. Faz um showzão.

Desde esse momento os fãs do Inocentes, atração especial da noite, esperam na maior ansiedade o show. Na hora que a banda começa a aglomeração na frente do palco e dezenas de mãos para o alto quase escondem a visão dos músicos que estão nessa pegada desde o começo da década de 1980.



Inocentes é arrebatador. Impossível assistir a apresentação sem pirar o cabeção. Tanto que o vocalista Clemente chega a parar uma música no meio para solicitar um "menos aí galera, senão a gente não consegue tocar porque vocês nos derrubam". Como se fosse possível algum menos. Lindas combinações de timbres de guitarra e revival de sucessos como "O Homem Negro" e "Cala a Boca" embalam a bateção de cabelo e rodinhas de pogação. Punk is not dead!, definitivamente.



Capim Maluco é a banda da sequência, sem deixar o clima esfriar. Rock de garagem, com gritaria na medida pelo vocal Rafa, guitarra estridente e baixo swingado. Para fechar, bateria alucinada, lisérgica. Tudo bem que as tentativas de descrever o som dos caras nem sempre funcionam. Sei que o show é fodão, na certa um dos melhores do festival. Um cover de Queens Of The Stone Age é o ultimato para conquistar os que ainda não tinham sido tomados totalmente pela apresentação (se é que ainda havia alguém nessa).

Brown-Há traz de Brasília (DF) o rock moderninho e cinco guris afinados na performance. Os beats são dançantes e as letras falam de curtir a vida. Destaque para o diálogo entre as guitarras, como num jogral divertido, e para a desenvoltura do vocalista no palco, todo pulante, serelepe. Som bom para festa.



Mudando de pato pra ganso, como diz meu pai, depois vem o blues puro do Bêbados Habilidosos. O quarteto campo-grandense é hit em qualquer lugar onde se tenha que seja meia dúzia de cabras, imagina num festival. Visitantes e músicos de bandas convidadas que ainda não tinham visto ao vivo gostam e é um burburinho só depois do show. Renatão arranhando a noite com suas letras que só bluesman de verdade sabe fazer acompanhado por Marcelão, Rodrigo e Erik na maior sintonia.

Por fim, o trio da Jennifer Magnética fecha a primeira noite do Fogo no Cerrado 2009. Clima de comemoração à la churrascão para os amigos misturado com expectativas grandes para o dia seguinte.

A SEGUNDA NOITE

As bandas campo-grandenses Santo de Casa e Midnight Purple fazem os primeiros shows da segunda noite do Fogo no Cerrado dando start no sábado inesquecível que começa. Com vocal fofo do casal Lu Kreutzer e Rodrigo Kampa, Santo mostra seu pop romântico com influências de bandas como Mutantes. Midnight Purple recebe generosos elogios por um dos seus primeiros shows ao vivo - há cerca de um ano a banda faz divulgação massiva de seu material pela web e já aglutinava ansiosos por sua performance.

Inimitáveis, da quentíssima Cuiabá (MT), conquista o público e ponto final. Ao fim da apresentação dos elétricos guris de terno preto o comentário é "show animado e envolvente". Resultado de combinação de rock autoral com influências da saudosa jovem-guarda, que muita gente do público nem viveu, o que não é empecilho para a empatia imediata. O carisma do vocalista Dênis é uma das marcas da banda.

Gobstopper, também campo-grandense, enche o palco com sua melodia doce e óculos 3d. Elizeu, Marcel e Leco embalam dancinhas e muitos cantam junto com "Te Esperar", um dos sinceros hits do trio e saem aplaudidos e também elogiados.


Hierofante Púrpura, de São Paulo, tem letras escritas como se fossem calculadas, guitarra lamentosa e bateria enérgica que arrebatam os ouvintes logo nas primeiras músicas. O entrosamento de Hugo, Danilo e Sérgio é evidente. Danilo, no vocal e baixo, é puro sentimento e parece poder ter um troço a qualquer momento. E tem. Um êxtase em pleno palco. Lindo de assistir. Hierofante Púrpura é indie; uma grande e rica banda.

Ao fim do show da Hierofante, o público, esperto que só, já se aglomera na espera do Móveis Coloniais de Acaju, que vem na sequência. A marca principal do Móveis é a alegria que os caras levam por onde passam. Comportam-se como uma família fora e dentro do palco e a galera se apaixona por essa relação. O melhor é que eles deixam qualquer um fazer parte dela.



Por isso, quando os acordes da primeira música começam o que se vê são rostos emocionados, curiosos, olhares fixos no palco. André, o vocalista, canta junto e para quem canta com ele. O grupo todo é impecável tanto na qualidade musical, quanto na performance. Fruto de muito ensaio e estrada - Móveis Coloniais de Acaju é uma das bandas que mais viaja o Brasil fazendo shows.

No trombone, Xande mostra que não o palco não é limite. Entra no meio do bolo de gente que se mantém coeso o show inteiro, sobe no balcão do bar, sem parar de tocar e dançar. Junto com ele e o vocal André, Beto, Edu, Paulo, Esdras coordenam as coreografias junto com o público.

Ao fim da participação de Móveis Coloniais de Acaju no Fogo no Cerrado, todos são convidados para formar uma grande roda, mesmo que distante do palco. Uma das cenas mais belas do Festival, e talvez dos shows que os campo-grandenses já viram. Móveis marca por onde passa e é um prazer presenciar a festa que eles promovem.



Depois de Móveis vem Ecos Falsos, também da capital paulistana. Os guris mostram o mojo da nova formação da banda e também uma evolução incrível na pegada das músicas, que já eram boas. O som é completo e bem produzido. Duas guitarras preenchidas ora com teclado e efeitos eletrônicos, ora com violão folk.

Sem falar na batera do Davi, sempre marcadona, dá o peso ideal para as músicas. Mas uma das grandes diferenças dessa nova fase da Ecos está no baixo, agora no comando de Vini, recente aquisição da banda. Muito bom de se ouvir, gracias Ecos Falsos.



Louva Dub toca o barco depois de Ecos. A afinadíssima Lauren Cury entoa canções que falam de amor, de "plantar agora pra poder colher depois", acompanhada da banda sempre poderosa. A mistura de dub - um dos ritmos derivados do reggae - com o que chamam por aí de nova MPB é certeira e encanta o público. Coisa comum de se ver em Campo Grande (Louva Dub é orgulho da terrinha). Xande, o trombone da Móveis Coloniais de Acaju, não se contém e pede permissão para tocar com os dubistas enquanto o restante do grupo se balança na frente da Louva.



Louva Dub ainda promove uma jam entre integrantes da banda com os remanescentes da Curimba que ainda está no local e era uma das escaladas da noite. A experiência resulta num som fino e camaradagem no palco.

Dimitri Pellz, que sabe botar fogo mesmo quando a brasa parece morrer, é a última banda. Recebe os reforços de Vini e Davi (Ecos) que completam o time, um no baixo e outro nas pirações eletrônicas. Mesmo com o dia já claro, anunciando a despedida do fogaréu, ainda tem gente para bater cabelo com Dimitri Pellz. Uma das melhores formas de catarse e de se terminar um festival.

É, acabou o Fogo no Cerrado 2009. Com gargantas roucas, pernas e pés doloridos, sintomas de quase gripe de tanto trabalho e curtição. Vale a pena cada analgésimo e anti-térmico. Porque, não só cada show vale a pena, mas a oportunidade única que é participar de um Festival. Benefício tanto para o público, que passa duas noites imerso em música sem fronteira de estilo, quanto para os músicos, que podem conhecer outros sons e trocar experiências.

Troca, intercâmbio. Nesses tempos de internet, novas tecnologias e redes sociais a lição que um Festival deixa é que o material humano e a arte ao alcance dos ouvidos, olhos, mãos, seja lá que tipo de contato for, é ainda algo valioso e indispensável para quem se interessa por cultura. O que parece é que o Fogo no Cerrado sabe disso, como um organismo que não pode e não vai parar de produzir, de existir.

Em nome do coletivo Bigorna Produções o agradecimento sincero a todos que acreditam, apóiam e participam dessa idéia. Em 2010 tem mais.

Texto: Manuela Barem
Vaca Azul e Bigorna Produções

Fotos: Vaca Azul












quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

saiba mais: BÊBADOS HABILIDOSOS

Não é a toa que Bêbados Habilidosos é considerada uma das melhores bandas de blues do País. As letras próprias lamentadas em português com o vocal de Renato Fernandes, acompanhado de Rodrigo (baixo), Erik Tatton (bateria) e Marcelo (baixo) são cantadas de cor pelos fãs. Blues que fez a banda ganhar os títulos de Banda e Guitarrista do Ano no Prêmio Rock do Mato 2009, realizado em novembro. “Whisky e Blues” e “Cortesã” são algumas das mais famosas do grupo e integram a trilha sonora do filme “Nossa Vida Não Cabe Num Opala”, de Reinaldo Pinheiro, baseado em peça de Mário Bortollotto.

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saiba mais: O BANDO DO VELHO JACK

Com 15 anos de estrada, O Bando do Velho Jack é um dos mais reconhecidos grupos de rock de Mato Grosso do Sul, dentro e fora do Estado. O som característico, que bebe de influências de southern rock e hardrock e letras em português é garantia de energia no palco e casa cheia. O Bando do Velho Jack é Rodrigo Tozzete (vocal e guitarra), Fábio Corvo (guitarra), Marcos Yallouz (baixo), Bosco (bateria) e Alex Cavalheri (teclado). Sucessos como “Palavras Erradas”, “Cão de Guarda” e “Gasolina” e quatro álbuns engordam o currículo da banda. Vai lá: www.velhojack.com.br. (Manuela Barem)

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saiba mais: PARKERS

Punk-rock bublegum dançante, para bater cabelo ou curtir uma balada fofa é o que oferecem os shows da Parkers. A banda é Rodrigo Ramone no baixo, Diogo Barros na guitarra e Jean Gabriel na bateria. Letras próprias, punk-rock bem tocado de andamento responsa. Rebeldia dosada na medida certa e feeling de sobra de amigos no palco, bem para fazer festa. Vai lá www.myspace.com/parkersrock. (Manuela Barem)

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saiba mais: DIMITRI PELLZ

Já pensou em definir uma banda com uma cor? Dimitri Pellz consegue: vermelho. Vermelho de quente, provocador, forte, incendiário. As músicas dos integrantes Maíra Espíndola (vocal), André Vilela (teclados), Heitor (baixo), Thiago (guitarra) e Jean Gabriel (bateria) se inspiram em nomes como The Clash e Rolling Stone. Mas no fim das contas são a mistura de muitas outras influências. As apresentações são contagiantes e justificam os troféus no Prêmio Rock do Mato 2009 de “Show”e “Performance do Ano” e um digno espaço durante a programação da MTV. Vai lá: www.myspace.com/dimitripellz. (Manuela Barem)

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saiba mais: GOBSTOPPER

Em pouco mais de um ano de banda, o vocalista Elizeu, o baixista Marcel Papel e o baterista Leco formam uma banda de carisma e talento. A escolha das melodias doces – o chamado chocorrock, como apelidam os próprios músicos - por muitas vezes camuflam letras envenenadas de sarcasmo. Demonstração de maturidade musical combinada com experimentações despretensiosas, mas certeiras. Gobstopper é boa dica para ouvidos delicados e corações inquietos. Vai lá www.myspace.com/bandagobstopper. (Manuela Barem)

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saiba mais: JENNIFER MAGNÉTICA

Parece com classic rock. Lembra Beatles. A banda bebe de Black Sabbath. Dá pra ver que eles gostam de Los Hermanos. Se a pergunta for Jennifer Magnética, a resposta é: todas as alternativas anteriores. Os amigos Diogo Zarate (bateria), Rodrigo Faleiros (baixo) e Jean Stringheta (guitarra) destilam harmonia e riffs irreverentes quando no palco. As músicas têm letras ora sentimentais, ora reflexivas, ora sombrias. As melodias diferem entre si e formam um todo harmônico que só eles sabem como fazer. Ganhadores dos troféus “Baixista”, “Album”e “Clipe do Ano” no Prêmio Rock do Mato 2009. Vai lá: www.myspace.com/jennifermagnetica. (Manuela Barem)

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saiba mais: FACAS VOADORAS

O baixista Diego Boeno, o guitarrista Leonardo Schimidt e o baterista Jean Ripa conquistam suspiros por aí mandando rock ‘n roll na essência da palavra - rápido, pesado e empolgante. As letras falam de boemia, ladies, vampiros e tudo mais que sair da cachola da banda, seja em português ou em inglês. Recentemente Facas Voadoras conquistou espaço durante a programação da MTV com a música “1’54” e também com ela levaram o título de “Música do Ano” no Prêmio Rock do Mato 2009, além do troféu de “Banda Revelação”. Vai lá: www.myspace.com/facasvoadoras. (Manuela Barem)

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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Parceria com @doelivroscg dá desconto no ingresso

Novidade do Fogo no Cerrado 2009:

Já que música independente se alia com cultura e cultura é sinônimo de educação, o Festival Fogo no Cerrado 2009 bota a máxima em prática e dá desconto para quem incentivar a leitura. Basta levar um livro na hora de comprar seu ingresso para garantir sua meia-entrada.

Olha como compensa: O passaporte para os dois dias custa R$ 30, mas sai por R$ 15 se vier acompanhado duma brochura de seu gosto. Mesma coisa com a entrada pra cada dia, que custa R$ 20 e pode baixar pra R$ 10 na condição dita na frase anterior.

Mas lembre-se: os descontos para quem levar o livro só valem para as compras de ingressos antecipados. O posto de venda é a loja Rock Show, na Avenida Afonso Pena com a Rua José Antônio, em frente ao Obelisco. E esses preços camaradas só valem para a compra antecipada, hein?

Os livros serão distribuídos para entidades como orfanatos, asilos e outros, que serão divulgadas em breve. Para mais informações siga o twitter do Festival Fogo no Cerrado (www.twitter.com/fogonocerrado) e da Doe Livros CG (www.twitter.com/doelivroscg). Tag da campanha: #doelivroscg.

Resumindo:

Fogo no Cerrado 2009
Data: sexta (4) e sábado (5)
Horário: a partir das 20 horas
Local: Toca Espaço Bar, na BR 163, em frente à Uniderp Agrárias
Ingressos: R$ 20 (cada dia) e R$ 30 (passaporte os 2 dias)/ antecipados: R$ 10 (com livro/cada dia), R$ 15 (com livro/passaporte).
Posto de venda: Rock Show, na Avenida Afonso Pena, esquina com Rua Jose Antonio, em frente ao Obelisco, ou com um dos camaradas da Bigorna. Informações: 3325-5337.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vinheta Fogo no Cerrado 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

follow friday

aproveitando a tradição do follow friday, siga o twitter do Fogo no Cerrado: @fogonocerrado. promoções, informações sobre horários, transportes e todas as novidades sobre o festival mais fervido do Oeste!!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Fogo no Cerrado 2009

incêndio

s. m.


1. Fogo que lavra e devora.


- Fogo, em terra de boi, é cultuado. Dançante, ardente, perigoso. Quanto mais fomentado, maior. Quanto maior, tanto mais incontrolável. E em terra em que BOI é rei, guerreiro vira aquele que não aceita ser peão em jogo ganho. Se em 2008, na primeira edição do próprio incêndio, a Bigorna dissimulou seu peso, que não se espera a mesma modéstia desta vez.


Quase um ano fica para trás, e na bagagem carregamos um imenso rol de Bigornadas inesquecíveis, com bandas de tantas diferentes regiões do País, que o Cerrado até se confundiu e derrubou a temperatura mais que o costume,trazendo a Campo Grande um inverno rigoroso. Radical que só o Mato Grosso do Sul, calor é que o exala do solo. Em maio, a Bigorna deu seu maior passo em direção ao fortalecimento de suas atividades, com a integração do Circuito Fora do Eixo, e o reconhecimento da importância da batalha épica de produzir shows, mostras culturais e difundir a produção autoral realizada – veja só – fora do eixão.

Agora, em sua segunda edição, o Fogo no Cerrado absorve uma perigosa e secular ação que a sabedoria popular indígena registra: o melhor modo de se restabelecer o solo e torná-lo fértil para as novas lavouras vindouras é atear fogo ao solo gasto e desnutrido, resultado de um ano todo de colheitas. Esse é o Fogo no Cerrado 2009. O incêndio pronto a restabelecer o solo da sonoridade do rock de Campo Grande.


Épico é o Fogo, Épica é a sua história. Hefesto na Grécia, Vulcano em Roma. Dono do fogo, artista do metal, criador do escudo de Zeus. Feio e coxo. Dono do palácio de bronze, criador de Pandora. Thor das terras nórdicas, Deus Viking beberrão de canecas de cerveja, imponente, com seu martelo Mjolnir em punhos e sua biga conduzida por cabras pretas. Homenageado pelo povo com um dia da semana (Thor day, insistente quinta-feira). Brighid da mitologia celta, Deusa irlandesa que se manifesta de três formas: poetisa, médica e ferreira. Padroeira de três classes minimamente vitais: alma, corpo e vida. Ogum de Aruanda, orixá africano da guerra e do metal. Protetor das almas, senhor das armas, zelador dos campos santos idolatrado como São Jorge no catolicismo.

Senhores das armas agora somos nós. De São Paulo, recebemos a igualmente épica banda punk paulistana Inocentes, nunca antes mostrando sua força em terras sul-mato-grossenses. Também de São Paulo, Capim Maluco, Ecos Falsos e Hierofante Púrpura. Exatamente do eixo, trazemos para perto de nós, do barulho ao indie anos 90. Já acostumados com o Cerrado, Snorks e Inimitáveis, de Cuiabá, Brown Há, de Brasília, e aquela que é quase um festival em si própria: Móveis Coloniais de Acaju, também da terra em que se decide pra que lado o Brasil vai, se para cima ou para baixo. E para terminar a exploração territorial, o Paraná ainda nos envia o Wolf Attack.


De Campo Grande, a seleção de bandas passa desde a revelação do ano pelo prêmio Rock do Mato MTV, Facas Voadoras, aos veteranos do Bando do Velho Jack, , Bêbados Habilidosos e Olho de Gato. Com menos tempo de estrada, mas muito tempo de história, o Midnight Purple, formado por egressos do Vaticano 69, faz sua estréia nos palcos. Reforçando ainda seu perfil democrático e plural, o Fogo no Cerrado recebe ainda Dimitri Pellz, Jennifer Magnética, Parkers, Curimba, Louva Dub, Thrashed, Repúdio CxGx, Gobstopper, Link Off e Santo de Casa.

Com tantos corpos, sotaques, sonoridades, escolhemos o Toca Bar, vizinha à reserva ecológica do Parque dos Poderes, para receber esses e aqueles que fazem tantos quilômetros e tantas noites sem dormir: o público, convidados de honra nesse fogo metafórico, que pretende incendiar apenas o conformismo, a apatia e a falta de opção.





Bigorna Produções